segunda-feira, 28 de abril de 2008

Arte Poética

Gostaria de começar com uma pergunta ou então com o simples facto das rosas que daqui se vêem entrarem no poema. O que é então o poema? um tecido de orifícios por onde entra o corpo sentado à mesa e o modo como as rosas me espreitam da janela? Lá fora um jardineiro trabalha, uma criança corre, uma gota de orvalho acaba de evaporar-se e a humidade do ar não entra no poema. Amanhã estará murcha aquela rosa: poderá escolher o epitáfio, a mão que a sepulte e depois entrar num canteiro do poema, enquanto um botão abre em verso livre lá fora onde pulsa o rumor do dia. O que são as rosas dentro e fora do poema? Onde estou eu no verso em que a criança se atirou ao chão cansada de correr? E são horas do almoço do jardineiro! Como se fosse indiferente a gota de orvalho ter ou não entrado no poema! Rosa Alice Branco Soletrar o Dia. Obra Poética Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2002

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